UFSCar realiza evento para debater ações afirmativas e Reitor apresenta Secretária Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade

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Professores e estudantes que fizeram parte da implantação do Programa de Ações Afirmativas na UFSCar apresentam suas experiências e realizam discussão sobre os novos desafios a serem enfrentados (Foto: Beatriz Maia – AECR/UFSCar).

Na última quarta-feira (25/11), a UFSCar realizou o evento “Equidade na UFSCar: do Programa de Ações Afirmativas à Secretaria Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade”, promovido pela Administração Superior da Universidade para ampliar o debate sobre diversidade e equidade na Instituição. O evento integrou as comemorações dos 45 anos da Universidade, no contexto de implantação da Secretaria Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade, cuja criação foi aprovada pelo Conselho Universitário (ConsUni) em maio deste ano. Na mesa de abertura, estiveram presentes o Reitor da UFSCar, Targino de Araújo Filho, e as pró-reitoras de Graduação, Claudia Raimundo Reyes, e de Extensão, Claudia Maria Simões Martinez.

Araújo Filho iniciou sua fala retomando o processo de construção do Programa de Ações Afirmativas da UFSCar (PAA), a partir das discussões realizadas durante a construção do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Universidade em 2004 e, posteriormente, relembrando a reunião do Conselho Universitário que, em 2007, tomou a decisão histórica de aprovar o Programa. “Nas discussões que antecederam a aprovação do Programa, foram várias as manifestações relacionadas à constatação de que a maior beneficiada pela diversificação da comunidade universitária seria a própria Universidade e o conhecimento por ela produzido. Hoje, oito anos após a implantação efetiva da reserva de vagas para estudantes oriundos do ensino público, negros e indígenas, não nos faltam evidências da verdade dessa afirmação. Tomando por exemplo nossos estudantes indígenas, estes têm se destacado em fóruns de abrangência e relevância nacionais e internacionais. Se, de um lado, a inestimável contribuição que esses jovens, antes excluídos da Universidade, podem dar, foi reafirmada ao longo desses anos, de outro, foram clara e inequivocadamente rechaçadas as afirmações de que seu ingresso na Educação Superior resultaria em perda de qualidade. Isto porque, além dessa qualidade compreendida como indissociável do compromisso social, se considerarmos apenas as compreensões mais conservadoras da qualidade, da excelência acadêmica, também temos um conjunto significativo de dados que mostram que esses estudantes não só apresentam o mesmo desempenho acadêmico dos ingressantes por ampla concorrência, mas também, em alguns casos, superam essa média. Além disso, neste momento em que nos debruçamos sobre o percurso desde a criação do Programa de Ações Afirmativas até a concepção mais ampla de equidade que agora se consubstancia na criação da Secretaria de Ações Afirmativas, é fundamental registrar que é essa ampliação da diversidade acadêmica que nos coloca questões, demandas e desafios novos que resultam na necessidade de criação da Secretaria”, afirmou o Reitor.

Durante o evento, Araújo Filho também apresentou à comunidade universitária a primeira Secretária Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade, Maria Waldenez de Oliveira, docente do Departamento de Metodologia do Ensino (DME). Após o anúncio, a docente se pronunciou com entusiasmo sobre o início dos trabalhos à frente da Secretaria. “Muito me orgulha fazer parte desta Universidade que teve a coragem de pensar uma política institucional de ações afirmativas, e agradeço a confiança depositada em mim para liderar esta Secretaria. Precisamos construir condições de combate ao racismo e ao preconceito com a participação de todos, como fazemos sempre nesta Instituição. Temos uma Universidade com pessoas combativas, e é desta forma que tenho certeza que avançaremos ainda mais nessa construção a partir de agora”, declarou a futura Secretária. O Reitor agradeceu também as pró-reitoras presentes na mesa e diversas outras pessoas que foram pilares da trajetória de apoio às ações que ampliaram as oportunidades de acesso e permanência dos estudantes na Universidade e contribuíram com o enfrentamento da exclusão social.

Após a mesa de abertura, a professora aposentada da UFSCar, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, que integrou a comissão do ConsUni responsável pela elaboração da proposta do Programa de Ações Afirmativas e coordenou, de 2007 a 2011, o Grupo Gestor do Programa, falou sobre a iniciativa, relembrando a luta política do movimento negro da cidade de São Carlos e pontuando questões trazidas pelo contexto vivenciado neste momento. “Foi um longo caminho de luta política para que construíssemos este modelo, estabelecendo políticas distintas para diferentes grupos sociais, como os oriundos de escolas públicas, negros, indígenas e refugiados. Hoje, temos a clareza de que a meritocracia não é medida para avaliar e de que o que avançamos até agora nos coloca novas questões, com a necessidade de repensar pedagogias e didáticas para educação das relações étnico-raciais. Agora, com a Secretaria, inauguramos uma nova forma de gestão institucional dessas questões, e é importante pensarmos também quais contribuições a gestão colegiada do Grupo Gestor nos trouxe. Quais intelectuais esta Universidade quer formar? Quais modelos temos de criar para formá-los? O que avançamos até hoje não é suficiente para responder a essas questões, e a situação nos exige respostas rápidas, para que possamos continuar avançando”, pontuou Gonçalves e Silva.

Por fim, a mesa-redonda “Ações Afirmativas: Perspectivas de pesquisas de estudantes da reserva de vagas” apresentou relatos de docentes e estudantes que fizeram parte das primeiras turmas ingressantes por meio do Programa. A mesa foi composta por alguns dos autores do livro homônimo, lançado ao final do evento, e outras pessoas que contribuíram para que ele fosse possível. Gonçalves e Silva esteve ao lado de Danilo de Souza Morais, doutorando na UFSCar, com quem divide a organização da obra, que reúne artigos de estudantes que participaram do programa de Bolsas de Assistência a Estudantes e Incentivo à Pesquisa (BAIP), apoiadas pelo financiamento da Fundação Ford.

O docente do Departamento de Sociologia (DS) da UFSCar, Valter Roberto Silvério, e a Pró-Reitora de Pós-Graduação da Universidade, Débora Cristina Morato Pinto, falaram sobre suas experiências com os primeiros estudantes e apresentaram desafios que devem ser enfrentados para que se avance na construção de políticas institucionais de ações afirmativas. Denise Dourado Dora, que integrava a seção de Direitos Humanos da Fundação Ford à época do programa de bolsas e, hoje, é Ouvidora Geral da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, apresentou as concepções que motivaram o financiamento da Fundação. Agenor Custódio, indígena do povo Terena e graduado em Imagem e Som; Marlon A. de Oliveira, graduado em Psicologia; e Vanicléia do Carmo Carvalho, graduada em Terapia Ocupacional, encerraram a mesa com depoimentos sobre as pesquisas de iniciação científica que desenvolveram com o apoio da BAIP e suas experiências no início da implantação do Programa na Universidade. O livro “Ações Afirmativas: Perspectivas de pesquisas de estudantes da reserva de vagas”, editado pela EdUFSCar, pode ser adquirido no site da Editora.

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