
Equipe do LEETRA e outros envolvidos com a elaboração dos materiais durante a apresentação. (Crédito: Beatriz Maia / AECR-UFSCar)
Na última sexta-feira, dia 10, aconteceu no Museu da Ciência e Tecnologia de São Carlos a distribuição de materiais didáticos com temática indígena elaborados pelo Grupo de Pesquisa Interdisciplinar “Linguagens, Etnicidades e Estilo em Transição” (LEETRA), do Departamento de Letras (DL) da UFSCar, em parceria com Coordenadoria de Ações Afirmativas e outras Políticas de Equidade (Caape) da Pró-Reitoria de Graduação (ProGrad) da Universidade e a Secretaria de Educação de São Carlos. O material foi entregue aos diretores de escolas do Ensino Fundamental do Município, para que seja encaminhado aos professores que, por sua vez, terão a oportunidade de levar o conteúdo para a sala de aula. A elaboração do material visa atender a lei 11.645/08, que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura afro-brasileiras e indígenas em todas as escolas brasileiras.
No evento, estiveram presentes representantes da Caape, membros do LEETRA, representantes da Secretaria de Educação e estudantes indígenas da Universidade, além dos diretores das escolas. Na abertura, os convidados apresentaram o processo de elaboração do material e a importância de valorizar as culturas indígenas desde o princípio da vida escolar. A Coordenadora da Caape, Thaís Juliana Palomino, destacou a riqueza das culturas indígenas, e o papel da educação para promover relações igualitárias. “Nós aprendemos na escola que o índio é uma pessoa com características bem distintas, que vive na floresta, caça e anda nu. Hoje, só na UFSCar, temos 29 etnias diferentes, que têm costumes diferentes e culturas bastante particulares. O que esse material propõe é que se olhe para essas culturas e que se aprenda com elas, desconstruindo essa imagem do índio como um ser selvagem. Isto só pode ser feito em diálogo com os próprios indígenas, tendo a oportunidade de ouvi-los e deixando que eles falem por si. A educação para as relações étnico-raciais vem para que as pessoas se relacionem de formas mais igualitárias com todos os grupos, celebrando as diversidades e proporcionando aprendizagens de todos os lados”, afirmou Palomino.
Luciano Quezo, indígena da etnia Umutina, estudante do curso de Letras da UFSCar e um dos autores do material, abordou em sua fala as possíveis formas de uso desse material e as implicações da valorização das culturas indígenas. “Esperamos que os professores usem o que está no material, que estabeleçam um diálogo com ele e orientem seus alunos para o conhecimento das culturas dos indígenas do Brasil. Este é o mecanismo que nós temos para acabar com os estereótipos de que o índio só serve para ficar na floresta, que ele não pode estar na sociedade, não pode ser um cidadão. A inserção dos indígenas na Universidade foi o primeiro passo para essa desconstrução, trocamos experiências com diferentes pessoas e realizamos trabalhos como este que entregamos hoje, para promover uma educação libertadora”, pontuou o estudante.
Após a apresentação do material de apoio, representantes indígenas da UFSCar e do Município contaram as histórias de seus povos e, mais uma vez, valorizaram o ensino das culturas indígenas nas escolas. A conversa com os diretores teve início com uma apresentação musical, quando Quezo cantou uma música na língua dos Umutina que relembra a luta de seus antepassados pela demarcação de terras e o desejo de praticar sua cultura em liberdade. Os participantes puderam debater sobre questões relacionadas aos povos indígenas e às lutas que travam nacionalmente por seu reconhecimento. Após a entrega das 400 cópias impressas do material de apoio, a expectativa do LEETRA é de construir outras ações com o Município no mesmo sentido.
LEETRA Indígena
Graduandos de diferentes cursos e pós-graduandos da UFSCar e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) que integram o LEETRA foram os responsáveis pela produção das revistas que abordam diversas temáticas relacionadas às culturas indígenas. Nos materiais há sugestões de atividades, como jogos colaborativos para alfabetização e letramento. Os volumes também trazem uma lista de leituras que podem ser realizadas de forma complementar.
Maria Silvia Cintra Martins, docente do DL da UFSCar e coordenadora do LEETRA, conta que antes da lei 11.645/08 o espaço destinado aos conteúdos indígenas nas escolas era bastante limitado. Martins explica que, apesar da literatura infanto-juvenil de temática indígena ser encontrada nas bibliotecas dos anos iniciais do Ensino Fundamental, o assunto era tratado de forma estereotipada e concentrada na comemoração do dia 19 de abril, Dia do Índio. “Com a lei, já se propicia espaços melhores para essa discussão. Ela nos dá uma coragem, nos dá um horizonte para poder conversar com os professores, que de modo geral têm sim uma forma de acolhimento e uma vontade de conhecer mais sobre as culturas indígenas”, relata a docente.
A iniciativa da elaboração dos materiais didáticos partiu de Quezo, que articulou junto à Caape a realização do trabalho em parceria com a Secretaria de Educação. Para a coordenadora do LEETRA, trabalhar a questão indígena na escola é fazer com que o País conheça a si próprio. “Uma lei voltada à abordagem da temática indígena vem contribuir para um conhecimento melhor da nossa identidade brasileira”, avalia.
Os pesquisadores pretendem agora analisar a forma de recepção na rede de ensino das revistas e possivelmente vir a reeditá-las após as contribuições trazidas com a experiência dos professores das escolas. O LEETRA também pretende desenvolver aplicativos para dispositivos móveis de cunho educativo que trabalhem essa temática. Os materiais de apoio, bem como outras publicações do LEETRA, estão disponíveis no site do grupo.